Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
(...)
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
2 comentários:
Perfeita escolha caro mancebo, ainda mais ao se levar em conta que o poeta pede apenas que alguém compartilhe com ele uma hora que ninguém vê como íntima ou opcional, mas sim única e solitária: a morte. Quem estará com ele? Quem será por ele nesta hora? A morte além de aterrorizar, ela afasta e a distância que o eu-lírico amedronta. Quem não tem medo da distância em tempos pós-modernos, épocas apocalípticas que ditam destinos inevitáveis do afastamento ; o homem pós-moderno fragmentado anti-cartesiano se vê em uma redoma de sófocles, o qual nem mesmo Tirésias consegue guiá-lo nesse furacão da distância. A morte não é a questão e sim o afastamento que gera o fim.
Nossa!
Esta foi de tirar o fôlego.
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