terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Hilda Hilst

Tá Cesinha, eu assistira a um documentário sobre esta pujante mulher, mas não me toquei quando vi o seu livro na "Galeria dos pães".
"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."
Hilda Hilst

2 comentários:

Polly Ana disse...

Nossa Felipe, essa sim que foi de tirar o fôlego. Admiro muito Hilst, poetisa e dramaturga que des-vela a alma feminina com o lirismo poético. Gostaria de apontar minha leitura da passagem. Nessa passagem é clara a problematização da temática IDENTIDADE, que critica o binarismo aristotélico de sermos nós mulheres ligas à terra, à fertilidade e à histeria; apenas isso nos é legado, nada mais, não há como ser a outra...A poetisa demonstra ainda, por meio de símbolos e arquétipos bem conhecidos a 'aflição' de se descobrir fragmentada e com diversas fissuras. Sim!!! Eu posso ser eu que não sei quem sou e ser a outra que pode ser tudo!!! "a um só tempo múltipla e imóvel" Hilda não pára só nos símbolos ligados à feminilidade (água, terra, noite, fera), Hilst ainda faz questão de nos brindar com uma estrutura poética metalinguística, a qual trata-se de uma metateoria apresentada, isso acontece por meio dos jogos de palavras que propõem imagens que repelem e corroboram: co-movem, i-móvel. No entanto, parece notável o desejo de descoberta de uma identidade una, haja vista que a poetisa destaca a seu interlocutor que não mesmo sendo água - aspecto fluído - sendo amor - aspecto subjetivo ligado à mulher - ela tb deseja ser terra - aspecto de identidade não fragmentada... Mal sabe Hilda que a Terra não existe e que somos água que flui, que se re - faz, que se es-vai....

Cesar R. Pontual disse...

ah, essa hilda... fico feliz que, mesmo sem querer, eu tewnha despertado seu interesse por ela. e justo o livro "exercícios" que eu levava comigo naquela noite me fez ter mais atenção para a poesia dela; antes, eu gostava mais da prosa dela. leia mais hilda, é uma superbença a obra dessa mulher.

bjs.